Dezembrite - A Síndrome do Final de Ano
- Nivaldo dos Reis
- 28 de dez. de 2024
- 3 min de leitura

Matéria de minha autoria publicada na edição de Dezembro/Janeiro da Revista Estilo, do Jornal Mais Expressão.
Ao final de cada ano, quando as cidades se iluminam com decorações natalinas, o trânsito se intensifica e os shoppings ficam lotados, é comum que o espírito festivo se misture com sentimentos que nem sempre são positivos. Esse fenômeno, popularmente conhecido como “Dezembrite,” é a combinação de estresse, nostalgia e frustração que muitas pessoas sentem em dezembro. Embora não exista formalmente nos manuais de Psiquiatria, Psicologia ou Psicanálise, essa “Síndrome do final de ano” representa emoções bastante reais e complexas. O psicanalista Nivaldo dos Reis explica. “Decoração de Natal pela cidade, trânsito engarrafado, shoppings e hipermercados lotados em busca dos preparativos para a ceia de Natal e a noite do réveillon. Nem sempre essa agi tação festiva promove sentimentos positivos nas pessoas. Para muitas delas, a pressão para concluir metas pessoais, rever familiares ou não os ter mais presentes nessas datas e o começo de um novo ciclo podem desencadear depressão, estresse e ansiedade.”
Para algumas pessoas, especialmente aquelas com questões de saúde mental pré-existentes, o final de ano pode se tornar um período difícil. Mas, segundo o especialista, mesmo pessoas sem histórico de depressão ou trans tornos de ansiedade podem ser afetadas por esse conjunto de emoções. A pressão para concluir o que foi planejado para o ano, junto com a reflexão sobre o que poderia ter sido feito, pode trazer à tona um sentimento de angústia. “A aproximação do encerramento de um novo ciclo pode trazer angústia. Tradicionalmente, dezembro é visto dessa maneira. Nas empresas, fechamento de final de ano, corre ria para bater metas de vendas, nas escolas o encerramento do ano letivo e assim sucessivamente. A vida colocada no piloto automático com a aceleração dos nossos tempos faz com que a pausa para reflexão com o fim de ciclo traga desconforto,” afirma Nivaldo. Essa angústia, diferente da ansiedade, não possui um objeto específico. É um vazio que surge diante da indefi nição do que está por vir. Além disso, o final de ano pode intensificar sentimentos de frustração, quando as metas não atingidas durante o ano ecoam como cobranças inter nas. “Ao refletir sobre o ano que passou, muitos se sentem frustrados por não terem atingido seus objetivos. O com bustível dessa frustração é a culpa que se refletirá numa cobrança para que no próximo ciclo consiga performar a contento e eliminar essa grande dose de frustração.” Outro fator que contribui para a Dezembrite é o luto. Nivaldo dos Reis explica que, na Psicanálise, o luto não se limita à perda de um ente querido, podendo ser associado a ideias, épocas, relacionamentos, pets ou até empregos perdidos. “O luto é um processo saudável de reorganização do psiquismo diante de uma perda. E ela pode ser referen te a um ente querido, a um país, uma ideia, uma época, um grande amor ou um emprego.” A saudade de entes queridos, a ausência de um filho que foi estudar no exterior ou o reencontro com familiares com os quais se tem desavenças são situações comuns nes sa época que podem reacender sentimentos dolorosos. “O luto pode se manifestar também no ninho vazio daqueles pais que tiveram um filho que casou recentemente e que, porventura, não venha a passar as festividades com sua família, ou aqueles que enviaram seus filhos ao exterior para intercâmbios,” destaca Nivaldo.
Para aqueles que enfrentam essa sobrecarga emocional, é importante reconhecer os sentimentos que emergem e buscar formas de aliviá-los. “Convém lembrar que a Dezembrite pode começar antes de dezembro, quando muitas cidades já se enfeitam para as festividades do final de ano. É importante entender toda essa problemática, ficar alerta para o que estes sentimentos estão despertando e checar se eles perdurarão no ano seguinte.”
Dicas para lidar com a Dezembrite Para quem sente o peso emocional do final de ano, o psicanalista sugere algumas práticas que podem ajudar:
Perdoe-se por metas eventualmente não cumpridas durante o ano.
Entenda que o novo ano vem carregado de novas oportunidades.
Parabenize-se pelos objetivos que conseguiu atingir.
Viva e celebre o presente. Se o passado ou o futuro estiverem muito presentes em sua vida, busque ajuda.
Lembre-se de dar o melhor de si com as condições que tem no momento.
Considere que sempre é possível mudar e recalcular suas rotas.
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