Sugestões que podem ajudar na luta do luto.
- Nivaldo dos Reis
- 3 de nov. de 2024
- 5 min de leitura
Fonte: Livro “Luto é outra palavra para falar de amor” – Rodrigo Luz

Celebrar a vida é um ato de coragem, em especial porque precisamos de coragem para viver um luto, mas também para não perdermos nenhuma centelha de luz em nosso caminho. Se temos de defender nosso direito de protestar, de sentir a dor, de abraçá-la com compaixão e cuidado, podemos também nos dar o direito ao descanso da dor. Todo enlutado tem direito a celebrar a vida e até mesmo encontrar lugares de refúgio para descansar do próprio sofrimento. Simplificando, amo minha dor porque é uma conexão com meu amor. Não quero nunca me recuperar da dor, me livrar dela, resolvê-la, lutar contra ela, “seguir em frente”. Isso significa que ainda posso ser feliz? Produtivo? Ter uma vida significativa? Claro. O mesmo horizonte que contém o sol contém também a lua. Seguem algumas sugestões, muitas delas aprendidas com minha mestra Joanne Cacciatore e também cuidando de centenas de enlutados na última década:
1. Passe pelo menos de 15 a 30 minutos diários em meditação, oração ou silêncio, apenas para estar com você mesmo. (Dica: existe um aplicativo, o Calm, que pode ajudar nos primeiros passos na meditação.)
2. Faça pelo menos 20 minutos diários de exercícios – ioga, caminhada, tai chi ou qualquer outra atividade do tipo que esteja dentro de suas possibilidades.
3. Permita-se rir quando se sentir verdadeiramente bobo, exuberante ou alegre. (Dica: algumas boas comédias da Netflix ajudam.)
4. Cerque-se de cuidados com os outros – família, amigos, colegas. Procure a companhia de pessoas que sejam compassivas e gentis. (Dica: mesmo que você não possa se conectar pessoalmente agora, experimente o WhatsApp, o Zoom ou outro aplicativo de reunião e agende “entradas” – em vez de saídas – com amigos e família, nem que seja para chorar, rir, fazer hora, estar presente.)
5. Se for possível, encontre o sol durante pelo menos 20 minutos todos os dias. (Dica: você pode combinar meditação ao ar livre com 20 minutos ao sol.)
6. Observe e experimente verdadeiramente a natureza. Contemple o céu ao caminhar na rua. Ouça o som das aves. Preste atenção às árvores, sinta o cheiro das flores, ouça o zumbido das abelhas e observe o trabalho das formigas. (Dica: já que enfrentamos muitas mudanças de estação durante o longo isolamento, podemos simplesmente contemplar como a natureza, o tempo todo, nos ensina sobre as perdas.)
7. Sem forçar, sinta gratidão diariamente até pelas coisas simples que costumamos dar por certas: boa saúde, família, água corrente, casa e comida. (Dica: pegue uma pilha de papel, ou vá ao computador, e escreva bilhetes de amor para sua família.)
8. Mostre ativamente compaixão pelos outros. Procure oportunidades de ajudar, mesmo que sejam pequenas. Também ativamente, tente ser gentil todos os dias. E seja voluntário ao menos um dia por mês. (Dica: você pode se oferecer para fazer coisas como ler livros para um vizinho idoso ao telefone; deixar comida ou outros suprimentos na porta de alguém; ou ser voluntário em abrigo de animais para passear com os cães.)
9. Apoie seu cérebro: dentro do possível, tenha uma dieta saudável. Procure um nutricionista ou converse com um médico sobre a melhor dieta ou as melhores formas de se alimentar em tempos de perdas e luto.
10. Expresse amor, gratidão e afeto. (Dica: você pode fazer isso nas redes sociais, não só com familiares e amigos, mas também com estranhos. Considere pedir comida para um departamento específico do hospital local como um obrigado à equipe.)
11. Encontre a expressão criativa: jardinagem, ioga, arte, música, escultura, poesia, escrita – qualquer forma de transformar emoções em criatividade. (Dica: adoro poesia acrostica. Talvez você também goste!)
12. Seja seu melhor amigo. Agora. (Dica: quando você estiver se debatendo, imagine o que gostaria que seu melhor amigo dissesse ou fizesse por você. Em seguida, faça exatamente isso.)
13. Chore bastante quando precisar. (Dica: as lágrimas emocionais têm bioquímica diferente daquelas das lágrimas irritantes ou lubrificantes. É por isso que, muitas vezes, sentimos alívio físico e emocional após um bom choro.)
14. Beba muita água.
15. Aceite e abrace as emoções dolorosas sem afastá-las. E aceite e abrace as emoções do tipo sentir-se bem sem se apegar a elas. (Dica: isso requer prática. Lembre-se de que o luto é como um rio em curvas, fluindo desinibido, sempre mudando).
16. Pratique a solidão. (Dica: gosto de chamar esse tempo de autossolidão, em vez de autoisolamento. Reserve um tempo para você; encare como a oportunidade para fazer algum trabalho interior, talvez.)
17. Dormir é fundamental. Durma generosamente. (Dica: se for o caso, procure um profissional que possa ajudá-lo a entender as principais dificuldades que você tem para dormir e os recursos – por vezes simples – que podem ajudar nisso.)
18. Jogue sujo. (Dica: suje-se, ande na lama, ande descalço – ou faça caminhadas assim, se tiver coragem!)
19. Lembre-se de seus entes queridos e insubstituíveis que morreram. (Nenhuma dica é necessária aqui, mas às vezes pego as fotos desses meus entes queridos, ouço minhas canções tristes favoritas e choro com saudades deles.)
20. Experimente coisas novas. (Dica: você pode ter aulas de pintura online, visitar museus ou assistir a documentários sobre países estrangeiros.)
21. Encontre sua música especial. (Dica: analise sua playlist antiga e ache uma música de que realmente goste agora. Ou, às vezes, garimpe músicas dos anos em que estava convivendo com aquela pessoa que você perdeu.)
22. Procure aqueles que fizeram diferença em sua vida e diga isso a eles. (Dica: gosto de voltar pelo menos 15-20 anos no tempo e estender a mão a um professor ou a outra pessoa que me ajudou.)
23. Ajude a construir pontes de amor, não de medo, entre as pessoas. (Isso é tão difícil agora! Uma forma de construir pontes é comprometer-se a não descartar o que os outros sentem, mesmo que seja o medo. Se alguém compartilha que está esperançoso, apenas ouço com o coração aberto. Se diz que está com medo, também ouço com o coração aberto. Peço que me estendam a mesma cortesia.)
24. Se e quando puder, tire uma folga dos aparelhos eletrônicos. (É fácil ser sugado pelas redes sociais e pelas notícias do mundo. Dica: quando estiver em ambientes fechados, faça pausas frequentes desse tipo. Aproveite para fazer o mesmo quando acabar a bateria do celular, por exemplo.)
25. Trate-se com um dia de conforto. (Dica: ou talvez uma hora? Tome um banho de espuma. Vá à pedicure. Faça sua sobremesa favorita. A luta por momentos de conforto é real.)
26. Pague um café para um estranho ou para um morador de rua.
27. Descubra rituais diários ou semanais de consolo, como acender uma vela, queimar incenso, escrever um diário ou dedicar-se a algum hobby que homenageie sua pessoa preciosa.
28. Abrace sua dor com uma compaixão ilimitada e dê tempo inclusive para a dificuldade de fazer qualquer das coisas que mencionei acima. Você não está obrigado a fazer nada. Não se force. Siga vivendo conforme seu ritmo e suas possibilidades. Abrace-se com delicadeza e já estará celebrando sua vida e a memória de quem se foi para sempre.
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